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O Deus da minha fé, por Dom Tomás Balduíno




SERMÃO PROFERIDO POR DOM TOMÁS BALDUINO, NA CIDADE DE GOIÁS, APÓS A CERIMÔNIA DA DESCIDA DA CRUZ, NA SEXTA-FEIRA SANTA DE 1974. TEXTO INSPIRADO EM IDÉIAS DE FREI BETTO E ADAPTADO PARA A CERIMÔNIA


Com toda a simplicidade, com toda a humildade e com toda a firmeza, nós devemos pronunciar a nossa fé, em homenagem Àquele que nos falou: "A palavra do Pai é uma resposta ao Seu Amor por nós".


O DEUS da minha fé! O DEUS da minha fé!


Não creio, primeiramente, no Deus construído à imagem e semelhança dos poderosos; nem no Deus inventado para esquecer as misérias e sofrimentos dos homens.


Não creio no Deus que está sempre ao lado dos que se acham no poder; nem no Deus que não liga para o pobre nem para o pequeno.


Não creio no Deus que dá cobertura para as ações das autoridades, só porque são autoridades.


Não creio no Deus das celebrações, inaugurações e missas oficiais sem fé; nem no Deus que é puro enfeite das paredes de nossas repartições.


Não creio no Deus em nome do qual se reprime o testemunho profético da Igreja; nem no Deus da garantia da ordem estabelecida.


Não creio no Deus que fecha os olhos à ganância dos latifundiários; nem no Deus que não enxerga a expulsão dos pequenos posseiros.


Não creio no Deus festejado pelos patrões que exploram seus empregados; nem no Deus que dá sorte aos ricos.


Não creio no Deus do Natal comercial; nem no Deus de propaganda do "Dia das Mães".


Não creio no Deus que fala por meio de horóscopo; nem no Deus do destino fatalista.


Não creio no Deus do turismo que só busca celebrações folclóricas; nem no Deus que é mero objeto das nossas tradições.


Não creio no Deus dos sermões para agradar os ouvintes; nem no Deus da religião oficial.


Não creio no Deus das missas e sacramentos sociais sem fé; nem no Deus dos casamentos sem amor.


Não creio no Deus feito de mentiras, que abençoa organização hipócrita que oprime; nem no Deus da falsa justiça que deixa o fraco mais fraco.


Não creio no Deus que marginaliza, que destrói; nem no Deus que mata o homem.


O Deus da minha fé nasceu numa gruta. Era judeu. Foi perseguido por rei estrangeiro. E caminhava pelas estradas da Palestina.


Fazia-se acompanhar por gente do seu povo. Dava pão aos que tinham fome: luz aos que viviam nas trevas: liberdade aos que estavam acorrentados; paz aos que suplicavam por justiça.


O Deus da minha fé punha o ser humano acima da lei e o amor no lugar das velhas tradições. Ele não tinha uma pedra para recostar a cabeça. E se confundia com os pobres. Só conheceu doutores quando estes duvidaram da Sua palavra.


Esteve com juízes só quando procuravam condená-lo. Foi visto, entre a polícia, preso.


Pisou o Palácio do governador para ser chicoteado.


O Deus da minha fé trazia uma coroa de espinhos.


Vestia uma túnica toda tecida de sangue!


Nunca teve alguém para lhe abrir a passagem, a não ser quando foi levado para o Calvário, onde morreu, entre ladrões, na Cruz.


O Deus da minha fé não é outro senão o FILHO DE MARIA, JESUS DE NAZARÉ!


Todos os dias, Ele morre crucificado pelo nosso egoísmo.


Todos os dias, Ele ressuscita pela força do nosso Amor.


Amém.


Fonte: "Uma vida a serviço da humanidade", livro que reúne textos de Dom Tomás e sobre ele, organizado por Ivo Poletto.

 
 
 

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