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BIOGRAFIA 

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TOMÁS BALDUINO

O Dom da Felicidade

“Para tudo há uma ocasião certa;
há um tempo certo para cada propósito
debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer,
tempo de plantar
e tempo de arrancar o que se plantou…
tempo de lutar e tempo de viver em paz”.
(Eclesiastes 3:1-8)

Dom Tomás Balduino foi bispo da cidade de Goiás e frade dominicano. Participou da fundação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Lutou por toda sua vida pela defesa dos direitos dos pobres da terra, dos indígenas, das demais comunidades tradicionais, e por justiça social. Nem mesmo com a saúde debilitada e internado no hospital ele deixava de se preocupar com a questão da terra e pedia, em conversas, para saber o que estava acontecendo no mundo.

Biografia

Com informações da CPT:

Dom Tomás Balduino nasceu em Posse, Goiás, no dia 31 de dezembro de 1922. Filho de José Balduino de Sousa Décio, goiano, e de Felicidade de Sousa Ortiz, paulista. Seu nome de batismo era Paulo, Paulo Balduino de Sousa Décio. Foi o último filho homem de uma família de onze filhos, três homens e oito mulheres. Ao se tornar religioso dominicano recebeu o nome de Frei Tomás, como era costume.

Até os cinco anos de idade viveu em Posse. Depois a família migrou para Formosa, onde seu pai se tornou promotor público, depois juiz e se aposentou como tal.

Fez o Seminário Menor – Escola Apostólica Dominicana – em Juiz de Fora, MG. Fez os estudos secundários no Colégio Diocesano, dirigido pelos irmãos maristas, em Uberaba. Cursou filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França, onde também fez mestrado em Teologia.

Em 1950, lecionou filosofia em Uberaba. Em 1951 foi transferido para Juiz de Fora como vice-reitor da então Escola Apostólica Dominicana e lecionou filosofia, na Faculdade de Filosofia da cidade.

Em 1957, foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia, estado do Pará, onde viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Na época a Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver um trabalho mais eficaz junto aos índios, fez mestrado em Antropologia e Linguística, na UNB, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua dos índios Xicrin, do grupo Bacajá, e Kayapó.

Para melhor atender a enorme região da Prelazia que abrangia todo o Vale do Araguaia paraense e parte do baixo Araguaia mato-grossense, fez o curso de piloto de aviação. Amigos solidários da Itália o presentearam com um teco-teco com o qual prestou inestimável serviço, sobretudo no apoio e articulação dos povos indígenas. Também ajudou a salvar pessoas perseguidas pela Ditadura Militar.

Em 1965, ano em que terminou o Concílio Ecumênico Vaticano II, foi nomeado Prelado de Conceição do Araguaia. Lá viveu de maneira determinante e combativa os primeiros conflitos com as grandes empresas agropecuárias que se estabeleciam na região com os incentivos fiscais da então SUDAM, e que invadiam áreas indígenas, expulsavam famílias sertanejas, os posseiros, e traziam trabalhadores braçais de outros Estados, sobretudo do nordeste brasileiro, que eram submetidos, muitas vezes, a regimes análogos ao trabalho escravo.

Em 1967, foi nomeado bispo diocesano da Cidade de Goiás. Nesse mesmo ano foi ordenado bispo e assumiu o pastoreio da Diocese, onde permaneceu durante 31 anos, até 1999 quando, ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia e mudou-se para Goiânia. Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com a Ditadura Militar (1964-1985).

Dom Tomás, junto à Diocese de Goiás, procurou adequar a Diocese ao novo espírito do Concílio Ecumênico Vaticano II e de Medellín (1968). Por isso sua atuação, ao lado dos pobres, no espírito da opção pelos pobres, marcou profundamente a Diocese e seu povo. Lavradores se reuniam no Centro de Treinamento onde Dom Tomás morava, para definir suas formas de organização e suas estratégias de luta.

Esta atuação provocou a ira do governo militar e dos latifundiários que perseguiram e assassinaram algumas lideranças dos trabalhadores. Em julho de 1976, Dom Tomás foi ao sepultamento do Padre Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo, assassinados pelos jagunços, na aldeia de Merure, Mato Grosso. Em sua agenda estava programada uma outra atividade. Soube depois, por um jornalista, que durante esta atividade programada, estava sendo preparada uma emboscada para eliminá-lo. Alguns movimentos nacionais como o Movimento do Custo de Vida, a Campanha Nacional pela Reforma Agrária, encontraram apoio e guarida de Dom Tomás e nasceram na Diocese de Goiás.

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Dom Tomás foi personagem fundamental no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Nas duas instituições Dom Tomás sempre teve atuação destacada, tendo sido presidente do CIMI, de 1980 a 1984 e presidente da CPT de 1999 a2005. A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente.

Depois de deixar a Diocese, além de ser presidente da CPT, desenvolveu uma extensa e longa pauta de conferências e palestras em Seminários, Simpósios e Congressos, tanto no Brasil quanto no exterior. Por sua atuação firme e corajosa recebeu diversas condecorações e homenagens Brasil afora. Em 2002, a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás lhe concedeu a medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira. No mesmo ano recebeu o Título de Cidadão Goianiense, outorgado pela Câmara Municipal de Goiânia.

Foi designado, em 2003, membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, CDES, do Governo Federal, cargo que deixou por sentir que pouco ou nada contribuía para as mudanças almejadas pela nação brasileira. Foi também nomeado membro do Conselho Nacional de Educação.

No dia 8 de novembro de 2006, Dom Tomás recebeu da Universidade Católica de Goiás (UCG) o título de Doutor Honoris Causa, devido ao comprometimento de Dom Tomás com a luta pelo povo pobre de Deus.

No dia 18 de abril de 2008 recebeu em Oklahoma City (EUA), da Oklahoma City National Memorial Foudation, o prêmio Reflections of Hope. A organização considerou que as ações de Dom Tomás são exemplos de esperança na solução das causas que levam a miséria de tantas pessoas em todo o mundo. A premiação Reflections of Hope foi criada em 2005 para lembrar o 10º aniversário do atentado terrorista de Oklahoma – quando um caminhão-bomba explodiu em frente a um edifício, matando 168 pessoas – e para homenagear aqueles que representam a esperança em meio à tragédia e dedicam suas vidas para melhorar a vida do próximo.

De 22 até 29 de março 2009 foi em Roma para participar das palestras em homenagem de Dom Oscar Romero e dos 29 anos do seu assassinato.

Em 2012 a Universidade Federal de Goiás (UFG) também lhe outorgou o título de Doutor Honoris Causa. Em dezembro do mesmo ano, durante as comemorações dos seus 90 anos, a CPT homenageou-o dando o seu nome ao Setor de Documentação da Secretaria Nacional, que passou a se chamar “Centro de Documentação Dom Tomás Balduino”.

DOM TOMÁS, O SENHOR SE LEMBRA?

Lembra de mim? Eu sou Maria Antônia de Jesus, mas todo mundo me chama de “Maria Toró”. O senhor me conhece há muito tempo. Quanto? Nem sei direito, que com 64 anos, e depois de criar quatorze filhos, a cabeça, às vezes, anda meio lesa... Eu sou aquela mulher que, numa noite de domingo, lá na Igreja de Santa Rita, o senhor viu, sozinha no derradeiro banco da igreja, chorando. Eu chorava e não queria ver mais ninguém, nem falar. Tinha vindo da roça e nunca tinha conhecido padre nenhum. Tinha até medo de padre porque contavam umas histórias de um padre bravo que andou fazendo uma desobrigas lá pelo Engenho Velho onde eu e meu marido éramos moradores. Quando eu levantei a cabeça, o senhor estava junto de mim e falava tão calmo e a voz tinha um tal dom de bondade que eu confiei de falar. E o senhor perguntou: - Por que você está chorando, minha filha? Aí contei tudo o que eu tinha passado, como a vida da gente que veio do campo para a cidade é uma vida estrangulada... E sem arrimo. E o senhor me disse que eu tinha razão de chorar, mas não precisava só chorar. Podia reagir e fazer por onde sair daquela situação. E o senhor foi para mim como um pai de família que põe a enxada na cacunda e vai na frente e a filharada atrás. O senhor parou um tempo demorado só para me escutar, e eu não era ninguém. Eu não via, não ouvia, não tinha respeito por mim mesma. E o senhor foi como uma luz que Deus do céu mandou para fazer a gente olhar, escutar e compreender. Para mim e para muita gente que eu conheço, o senhor abriu nossa vista para a gente enxergar nossos direitos... abriu nossos ouvidos, nosso coração para a gente amar... O senhor se lembra? Para nós, padrinho é quem introduz a pessoa na vida de Deus. O senhor foi nosso padrinho. Foi e é para sempre. Eu acho que todo pobre que conheceu o senhor levantou a vista. O senhor se lembra de como explicou para nós o valor da terra e da reforma agrária? Desse modo, indo assim pelo que é básico na vida para a gente sobreviver, o senhor me fez descobrir até o valor do meu batismo. E a partir daí eu entrei para o Grupo de Evangelho. Eu acho que, em Goiás, fui das primeiras pessoas a se organizar em grupos para falar do arroz do Reino de Deus e do timbete que o inimigo joga no campo. O senhor se lembra de como nos animou para partir para uma terra que pudesse ser nossa? Muita gente dos grandes da cidade e de fora tinha ódio do senhor, mas o senhor nunca desacorçoou de estar com o pobre. O senhor se lembra? A sua casa era sempre cheia de gente e era sempre gente pobre que o senhor apoiava. A gente ocupou a terra (fazenda) do Mosquito e pediu seu apoio. Quando eu vi o povo na terra, achei que com a experiência que tinha não podia ficar ali só para mim. Deixei o pessoal lá e fui ajudar o pessoal a ocupar o Rancho Grande. E depois fiz a mesma coisa no Acampamento Europa e finalmente no São Carlos. Em toda essa luta, toda vez que o pessoal se sentiu ameaçado pelo polícia ou por jagunços, a gente nunca desanimou porque a gente contava com seu apoio. A fé em Deus tinha como se fosse um sinal: a fé em Dom Tomás

O senhor se lembra quando o Silvando foi preso na Estiva? Amarraram o Silvando como se amarra um animal, e o levaram. Nós, junto com o padre Felipe e Marcelo e a irmã Zenaide, fizemos uma procissão até a delegacia. E o senhor entrou na delegacia e o resultado foi que o delegado o liberou. O senhor se lembra, Dom Tomás? O senhor plantou uma semente e o que, neste seu aniversário de 80 anos, eu posso lhe dizer é que nós vamos cuidar para que essa semente vire árvore e fecunda. Mesmo se, nos tempos de hoje, muita gente até a Igreja andam perdendo o rumo, e eu não sei se a gente conta com os bispos do mesmo modo, o senhor plantou um semente... Que Deus recompense o senhor por esse plantio. O senhor se lembrou de nós. Agora, pode ter certeza: o Deus dos pobres vai sempre lembrar do senhor. Que ele lhe dê muitos anos de vida e saúde. MARIA ANTÔNIA DE JESUS, CONHECIDA COMO MARIA TORÓ

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