Marcelo Barros
Há três anos, partia nosso profeta Pedro Casaldáliga. Para quem o conheceu de perto e teve a graça de conviver com ele, não é fácil ver o mundo sem ele e, principalmente, nessa conjuntura de Igreja Católica que vivemos hoje. Apesar das minorias abraâmicas que teimam em viver o evangelho como profecia, a maioria do clero, da hierarquia e de muitos grupos católicos parecem decididos a caminhar para trás, nos caminhos de um devocionalismo barroco da época das nossas avós e ferrenhamente apegados a um clericalismo autorreferencial que quanto mais o papa denuncia, mais eles o fortalecem.
Já em maio de 1973, no seu diário espiritual, Pedro Casaldáliga chegava a afirmar que para se sentir plenamente integrado na Igreja Católica, ele precisava ver que ela renunciava a sua tentação de religião ritual e assumia plenamente a vocação de comunidade profética a partir da ética do Evangelho (Cf. Creio na Justiça e na Esperança, p. 85).
Lutou por isso a vida inteira e nos deixou como herança alguns princípios que podem nos ajudar nesse caminho de uma Igreja profética.
1º -Viver a fé, descentrados de nós mesmos e da própria Igreja. O que há de mais espiritual é a luta pela justiça e pela libertação de todos/as. Absoluto mesmo só Deus e a fome do povo.
2 – Igreja é sempre e principalmente Igreja local. E essa tem de ser o que hoje o papa Francisco propõe: em saída e sinodal a partir dos pequenos e deserdados do mundo.
3 – Aprendemos de Pedro o amor apaixonado aos povos indígenas e esse amor se manifestou em todo o seu estilo de vida, até o fato de querer ser enterrado no cemitério Karajá às margens do Araguaia.
Que agora nesse 2023, Pedro nos ilumine a fortalecer o mutirão da profecia e junto ao grito dos excluídos e excluídas, expressar o grito de uma Igreja solidária e profética na luta pacífica pela justiça do reino. Amém.
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